No passado 7 de agosto foi realizado um novo Diálogo Educador. Nesta ocasião, mais de 30 cidades e 70 pessoas de diferentes países da Delegação América Latina da AICE reuniram-se para ouvir e trocar experiências sobre a inclusão e o empoderamento das mulheres em Cidades Educadoras. Os municípios que compartilharam suas iniciativas foram Curitiba, Brasil; Morelia, México; e Villa Carlos Paz, Argentina.
O encontro contou com a moderação da psicóloga Adriana Gerbaudo, coordenadora do Programa de Capacitação e Formação em Atenção às Violências de Gênero voltado a profissionais da Secretaria de Igualdade, Gênero e Direitos Humanos da Prefeitura de Rosário, e do Espaço de Atenção a Situações de Violência e Discriminação Baseada em Gênero da Faculdade de Ciências Exatas, Engenharia e Agrimensura da Universidade Nacional de Rosario.

O diálogo começou com palavras de início e a apresentação da Diretora do Escritório de Cidades Educadoras Delegação América Latina, Laura Alfonso, que ao finalizar passou a palavra à moderadora. Adriana fez uma introdução ao tema: “Experiências para a inclusão e o empoderamento das mulheres”, destacando principalmente os aspectos da desigualdade social entre homens e mulheres, como a divisão sexual do trabalho, que retira tempo das mulheres, impondo-lhes uma dupla jornada (fora de casa e dentro dela, incluindo tarefas de manutenção e cuidado), as relações de poder e a falta de autonomia econômica, que muitas vezes as mantêm em situações de vulnerabilidade. “É tarefa dos Estados corrigir essas desigualdades estruturais a fim de favorecer uma cidadania plena das mulheres, que lhes permita o exercício e o gozo de todos os seus direitos”, afirmou a moderadora.
Em seguida, deu-se início ao primeiro bloco do diálogo, no qual as cidades apresentaram suas experiências. Primeiramente, Nuria Hernández Abarca, Secretária da Mulher Moreliana para a Igualdade Substantiva da Prefeitura de Morelia, compartilhou o projeto “Morelia Emprende”, que desde 2023 atende às necessidades de capacitação e apoio ao desenvolvimento econômico das mulheres. As formações são gratuitas, com 17 sessões presenciais e 4 mentorias individuais que abordam temas como criatividade, negócios, aspectos legais, criação de marca, finanças e estratégias de venda. Também são promovidos eventos de divulgação, feiras de comercialização e programas de difusão. Na sequência, Cintia Aumann, Diretora de Proteção Social Básica da Fundação de Ação Social de Curitiba, apresentou junto a sua equipe o projeto “FAS para Elas”, que atua em parceria com centros de assistência social para refletir, ressignificar, sonhar e trabalhar na educação financeira e no acesso a políticas públicas, com o objetivo de transformar a vida de mulheres em situação de vulnerabilidade. O programa é direcionado a mulheres de 16 a 59 anos beneficiárias do Bolsa Família (programa de transferência de renda). A partir do fortalecimento da autoestima, das relações familiares e comunitárias, do autoconhecimento e da inserção no mundo do trabalho, busca-se alcançar o objetivo final: a autonomia. O programa, com duração de três meses e encontros semanais, atende grupos de 15 mulheres que, ao final, são encaminhadas a cursos profissionalizantes ou à educação formal. Desde sua primeira edição em 2021, já foram formados 20 grupos, totalizando 293 mulheres participantes. Para concluir o primeiro bloco, Carolina Oribe, Coordenadora Interinstitucional da Direção de Desenvolvimento Social, Educação, Gênero e Diversidade da Prefeitura de Villa Carlos Paz, apresentou o projeto “Trama Emprendedora VCP: Experiências de formação em ofícios para fortalecer a autonomia econômica das mulheres em Carlos Paz”, que são workshops de formação profissional em ofícios tradicionais e emergentes (como marketing e empreendedorismo), surgidos em 2021 a partir da demanda das mulheres que se aproximavam à Casa da Mulher, um espaço de apoio a mulheres em situação de vulnerabilidade. Desde então, os workshops são realizados de forma territorial.

No segundo bloco, as três cidades compartilharam aprendizagens, fortalezas e desafios. A equipe do “FAS para Elas” destacou como principais dificuldades a assiduidade, sobretudo entre mães solteiras, bem como o baixo nível de escolaridade e a dependência do Bolsa Família, fatores que impactam a inserção no mercado de trabalho. Como aprendizado, ressaltaram a importância de compreender que cada mulher tem sua história, seu momento, seu ritmo e precisa de condições para assumir o controle da própria vida. Em seguida, Soledad Grifone, Coordenadora da Casa da Mulher de Villa Carlos Paz, destacou que os maiores desafios foram institucionais: transformar as lógicas participativas da prefeitura junto aos bairros sob a perspectiva do desenvolvimento econômico e da igualdade de oportunidades para as mulheres. Também apontou desafios territoriais, como articular e consolidar uma rede de mulheres empreendedoras com reais oportunidades em seu espaço específico. Como aprendizado, mencionou o vínculo construído com mulheres e dissidências da comunidade LGBT, pertencentes a grupos vulneráveis. Por fim, reafirmou que a autonomia econômica das mulheres se conquista com o trabalho e a presença territorial, respondendo a suas necessidades com apoio institucional. Nuria Hernández Abarca, de Morelia, por sua vez, destacou aprendizados resultantes de desafios como a necessidade de incluir mais mulheres mediante intérprete de língua de sinais e a ampliação do projeto para crianças e adolescentes, de modo a garantir a participação das mulheres responsáveis por tarefas de cuidado.

No terceiro bloco, foram compartilhadas recomendações. Villa Carlos Paz enfatizou a importância de que os municípios fomentem ecossistemas empreendedores com foco na autonomia das mulheres, sensibilizem sobre a desigualdade de gênero e participem ativamente das redes comunitárias para ouvir, compartilhar e acompanhar as mulheres em seus processos. Morelia reforçou a necessidade de acompanhamento econômico e contínuo por parte da prefeitura, bem como de espaços de escuta ativa. Nuria acrescentou a relevância da inclusão de mulheres com deficiência, além de crianças e adolescentes, nos projetos. Já Curitiba apresentou um vídeo inspirador sobre o trabalho desenvolvido.

Para finalizar, foi realizada uma rodada de perguntas, na qual a moderadora propôs refletir sobre as causas da evasão e o impacto da falta de recursos. As três participantes concordaram que a evasão ocorre, sobretudo, pela falta de tempo, já que muitas mulheres não dispõem de rede de apoio e dedicam grande parte de seus dias às tarefas domésticas e de cuidado. Cada cidade compartilhou, ainda, suas estratégias de adaptação conforme os recursos disponíveis. Adriana Gerbaudo finalizou agradecendo a participação e refletindo sobre a importância do olhar interseccional para atender às necessidades das mulheres, ressaltando que é possível reparar e recomeçar com o apoio dos governos locais.
Agradecemos a Curitiba, Morelia e Villa Carlos Paz pela apresentação de experiências tão enriquecedoras, que inspiram e convidam à reflexão sobre como construir cidades mais justas e equitativas. Agradecemos também a Adriana Gerbaudo por sua contribuição e a todas as cidades que participaram do encontro. Convidamos vocês a assistir ao diálogo completo no seguinte link: https://www.youtube.com/watch?v=Y5QQcLUDQbo
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