Há mais de uma década, a Cidade Autónoma de Buenos Aires impulsiona uma experiência educativa que une o compromisso ambiental à formação cidadã: o projeto “Escolas pelo Riachuelo”. Essa iniciativa nasceu em 2013 a partir de marcos normativos locais, como a Lei nº 4162, que declara o dia 8 de julho como o Dia da Ação Ambiental pela Bacia Matanza Riachuelo, e consolidou-se como uma política educativa sustentada no tempo, que faz da educação ambiental uma ferramenta de transformação social. Seu objetivo é claro: formar estudantes capazes de agir em favor do meio ambiente, a partir de um conhecimento profundo do território em que vivem e de seus desafios ecológicos e sociais.
“Escolas pelo Riachuelo” propõe fortalecer o papel das instituições educativas como agentes ativos na recuperação ambiental da Bacia Matanza Riachuelo. Docentes e estudantes de escolas públicas de nível primário, localizadas na zona sul da cidade — uma das mais vulneráveis socioambientalmente — elaboram projetos vinculados à saneamento, preservação e conscientização sobre o rio. O Programa Escolas Verdes, dependente do Ministério da Educação, juntamente com a Agência de Proteção Ambiental e a UPE CUMAR, articula oficinas, visitas didáticas, capacitações e um evento de encerramento onde as escolas apresentam seus trabalhos, promovendo a troca e a construção coletiva de saberes.
A atividade integra princípios fundamentais da Carta das Cidades Educadoras, ao conceber a cidade como um espaço de aprendizagem permanente, onde o entorno, a memória e a história local se tornam recursos pedagógicos. A problemática do Riachuelo, com mais de dois séculos de poluição e forte impacto na saúde e qualidade de vida de seus habitantes, transforma-se assim em uma oportunidade para desenvolver projetos educativos contextualizados, interdisciplinares e participativos. Por meio dessas experiências, os estudantes não só adquirem conhecimentos, mas também se tornam protagonistas de ações concretas para a melhoria de sua comunidade, exercendo uma cidadania ativa e comprometida.
Durante o ano letivo de 2024, mais de uma dezena de escolas participaram da décima primeira edição do evento. Visitaram espaços emblemáticos como as Reservas Urbanas, o Museu Benito Quinquela Martín, o Centro de Reciclagem da Cidade, e receberam uma mostra itinerante com marcos culturais e ambientais da Bacia. No Passeio Ambiental do Sul, os estudantes apresentaram seus projetos por meio de maquetes, cartazes, folhetos e dispositivos lúdicos, gerando um clima de reflexão e celebração do aprendizado coletivo. Projetos como “O Riachuelo no meu bairro”, “Resíduos e poluição”, “Ypoti” e “Mãos na água” são apenas algumas das múltiplas perspectivas e vozes que constroem essa experiência.
O impacto do programa vai além do evento anual. Com onze edições realizadas, “Escolas pelo Riachuelo” integrou-se ao trabalho cotidiano das escolas da região, favorecendo a inclusão da perspectiva ambiental nos currículos e fortalecendo os vínculos entre escola, território e comunidade. Paralelamente, outras ações desenvolvidas na Bacia, como a distribuição de cestos para separação na origem, a formação de agentes ambientais e a sensibilização de toda a comunidade educativa, contribuem para consolidar uma cultura escolar mais sustentável e responsável.
Essa experiência educadora reflete como uma cidade pode assumir com responsabilidade sua função formadora, promovendo o acesso equitativo a uma educação ambiental de qualidade, com enfoque territorial e comunitário. Apostar para que crianças, adolescentes e jovens conheçam, compreendam e transformem seu entorno é também uma maneira de construir um futuro mais justo, inclusivo e sustentável para todos.
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